16 agosto 2012

Em artigo Jodie Foster defende e fala sobre Kristen Stewart

Em um artigo no site The Daily BeastJodie Foster – que contracenou com Kristen em O Quarto do Pânico – fala sobre alguns temas. Entre grandes detalhes sobre sua carreira, Jodie entra no assunto da grande polêmica que está rondando Robert Pattinson e Kristen Stewart, defendendo a situação e dizendo que, sobretudo, a atriz é um ser humano normal. Confira:

Todos nós vimos as manchetes nas bancas. “Kristen Stewart pega.” Nós todos manuseamos as páginas brilhantes aqui e ali. “Kris e Rob um casal?” Todos nós vimos as fotos. “Eu gosto desse vestido. Eu odeio o cabelo. Casal fofo. Sapatos ruins.” Não há nenhuma culpa em reconhecer o interesse humano nos lençóis públicos. Isso é tão velho quanto as montanhas. Eleve lindos jovens como deuses e então os puxe de volta para a terra para olhar suas costuras. Veja, eles são como nós. Mas nós raramente consideramos as infâncias que nós inconscientemente destruímos no processo.

Eu sou uma atriz desde que eu tinha 3 anos, 46 anos até a presente data. Não tenho lembranças de uma infância longe do olhar do público. Me dizem que as pessoas olham para mim como uma história de sucesso. Frequentemente completos estranhos se aproximam de mim e perguntam, Como você se manteve tão normal, tão bem ajustada, tão privada?, eu normalmente minto e digo, “Apenas entediante, eu acho.” A verdade é, como alguns curiosos mutantes radioativos, eu inventei minhas próprias ferramentas góticas de sobrevivência. Eu tenho modelado regras para controlar os olhares ferozes. Talvez eu tenha organizado minhas opções de carreira para conceder a mim (e aos que eu realmente amo) o máximo de dignidade pessoal. E sim, eu neuroticamente me adaptei para o esporte gladiador da cultura da celebride, a crueldade de uma vida vivida como um alvo móvel. Na minha época, por meio da disciplina e força de vontade, você poderia conseguir alcançar uma carreira de estrela e ter a autenticidade de uma vida privada. Claro, você teria de perder sua espontaneidade na elaborada arquitetura. Você teria que aprender a submergir sob o ar poluído e respirar através de um canudo. Mas pelo menos você poderia se levantar e dizer, eu não vou participar voluntariamente na minha própria exploração. Não mais. Se eu fosse um jovem ator ou atriz começando minha carreira hoje na nova era das mídias sociais e sua temporada sancionada de caça, eu iria sobreviver? Eu me afogaria em drogas, sexo e festas? Eu estaria perdida?

Eu já disse isso antes e vou dizer novamente: se eu fosse um ator jovem hoje, eu iria desistir antes de começar. Se eu tivesse que crescer nessa cultura de mídia, eu não acho que eu poderia sobreviver emocionalmente. Eu apenas esperaria que alguém que me amasse, realmente me amasse, colocasse seus braços em volta de mim e me guiasse para a segurança. Sarah Tobias nunca teria dançado antes de seus estupradores em The Accused. Clarice nunca teria compartilhado o terrível grito dos cordeiros com Dr. Lecter. Outra atriz poderia certamente ter tomado meu lugar, aberto sua alma para criar esses personagens, rendido suas vulnerabilidades. Mas teria ela sobrevivido aos paparazzi perscrutando suas janelas, assédios online, as humilhações públicas, sem uma overdose num quarto de hotel ou picando seu rosto com agulhas até que ela se torne irreconhecível até para si mesma?

Atuar é tudo sobre transmitir vulnerabilidade, permitindo que a verdade dentro de si brilhe, independentemente disso parecer insensato ou vergonhoso. Se abrir e se dar completamente. É um ato de liberdade, amor e conexão. Atores demoram para serem conhecidos da forma mais profunda por suas sutilezas de caráter, por suas imperfeições, por suas complexidades, por seus instintos, por sua vontade de cair. Quanto mais destemido você for, mais verdadeira sua performance. Como você pode fazer isso se você sabe que você será pessoalmente julgado, espetado, traído? Se você for esperto, você aprende a dissociar voluntariamente, compartimentar. Colocar suas emoções em uma caixa definitivamente vem a calhar quando o público atira pedras. O objetivo é sobreviver, intacto ou não, a qualquer custo emocional. Atores que se tornam celebridades supostamente deveriam ser gratos pelo interesse do público. Afinal, eles estão sendo pagos. Só para deixar o relato claro, um salário para um determinado desempenho na tela não inclui o direito de invadir a privacidade de ninguém, destuir o senso de alguém de si mesmo.

Em 2001 eu passei 5 meses com Kristen Stewart no set de Quarto do Pânico, na maior parte escondidas em um espaço do tamanho de um closet de Manhattan. Nós conversamos e rimos por horas, compartilhando mistérios espotâneos e descarregando nosso tédio. Aprendi a amar aquela garota. Ela completou 11 anos durante nossas filmagens e no aniversário dela eu organizei uma serenata com uma banda mariachi para ela em um bar mexicano enquanto ela soprou suas velas. Ela relutantemente dançou ao redor de um sombreiro comigo, mas logo correu para a um jogo de basquete do departamento eletrônico. Sua mãe e eu assistimos ela pular ao redor da bola, vaiando com cada cesta da equipe. “Ela não quer ser atriz quando crescer, quer?” Eu perguntei. Sua mãe suspirou. “Sim… infelizmente.” Nós duas sorrimos e encolhemos os ombros com uma ambivalência que nasceu da experiência. “Você não pode convencê-la a desistir?” Eu tentei. “Oh, eu tentei. Ela ama isso. Ela apenas ama isso.” Mais suspiros. Assistimos ela correndo ao redor da quadra por um tempo, ambas em silêncio, cada uma presa em nossos próprios pensamentos. Eu estava grávida na época e eu me encontrei sonhando com a criança que eu teria em breve. Ela seria como Kristen? Todo aquele lindo talento e destemor… Ela iria pular e emergir e me deixar tão orgulhosa?

Essa é imagem que eu tenho de um momento perfeito. Ela vem até mim como um filme caseiro no formato 8mm com vermelhos e azuis super saturados, sem som, apenas um loop arranhado… Há uma pequena garota rodopiando na arrebentação. Ela está cantando com todos os seus pulmões, pulando e girando na água fria, toda salgada, arenosa, cheia de alegria e confiança. Ela está inconsciente da câmera, é claro, no seu próprio mundo. A câmera treme um pouco. Talvez a mãe dela esteja rindo atrás da lente. Poderia uma criança ser mais amada do que nesse momento? Ela é perfeita. Ela é absolutamente perfeita.

Corta para: Hoje… Uma bela jovem avança sozinha na calçada, de cabeça baixa, mãos desenhadas em punhos. Ela está andando rápido, correndo em torno dos enormes homens com câmeras pretas empurrando em sua boca e seu peito. “Kristen, como você se sente?” “Sorria Kris!” “Hey, hey, você pegou ela?” “Eu peguei ela. Eu peguei ela!” A jovem não chora. Não. Ela não olha para cima. Ela aprendeu. Ela mantém a cabeça baixa, com seus óculos de sol, punhos em seus bolsos. Não fala. Não olha. Não chora.

Minha mãe tinha um ditado que ela compartilhava depois de cada pequena injustiça, cada mágoa, cada momento de sofrimento. “Isso também passará.” Deus, eu odiava essa frase. Ela sempre parecia tão banal e fora de alcance, como se ela estivesse me dizendo que minha dor era irrelevante. Agora isso só parece estranho, mas é estranhamente verdade… Eventualmente tudo isso passa. Os horrores públicos de hoje eventualmente passam. E sim, você é transformado pelas terríveis consequências do juízo que eles deixaram para trás. Você confia menos. Você calcula seus passos. Você sobrevive. Esperemos que no processo você não perca sua capacidade de jogar os braços para o ar novamente e girar em um abandono selvagem. Esse é o último “dane-se” e – finalmente – o instrumento de sobrevivência mais bonito de todos. Não deixem eles tirarem isso de você.

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