11 outubro 2012

Entrevista Ao Guardian: "Eu Amo Marylou. Ela Pula Das Páginas E Te Dá Um Tapa Na Cara"


Para muitos, On the Road é principalmente sobre rapazes. A obsessão de Jack Kerouac com o andarilho egoísta e hedonista Neal Cassady domina o livro, com as personagens femininas rebaixadas para o banco de trás, como objetos descartáveis que flutuam dentro e fora da história na conveniência dos rapazes beats.

Esse é um ponto de vista. Mas para o diretor Walter Salles, as personagens femininas do livro, especialmente aquelas baseadas nas esposas de Cassady, são "heroínas silenciosas". De acordo com isso, ele escalou as duas mais disputadas atrizes de Hollywood - Kristen Stewart e Kirsten Dunst - para interpreta-las.

Stewart é Marylou, a versão do livro da primeira esposa de Cassady, LuAnne Henderson, que se juntou à Cassady e Kerouac em suas viagens pelas estradas da América; Dunst é Camilla, conhecida como a segunda esposa Carolyn Cassady, que ficou em casa com os bebês em San Francisco. Cassady rodava entre essas mulheres, dormindo com Carolyn enquanto era casado com LuAnne, mantendo LuAnne como amante após o divorcio para casar com Carolyn. Kerouac fez pouco esforço para dar profundidade e dignidade para suas amigas nas páginas; o filme tenta remediar esse descuido.

A proeminência de Stewart na divulgação do filme reflete tanto a intenção quanto ao alto profile da estrela da Crepúsculo. A atriz de 22 anos também é uma surpreendente apaixonada fã do livro. "On the Road estava na minha lista de leitura na escola e graças a Deus eu o escolhi," ela lembra. "Parecia muito mais divertido do que os outros. Eu sabia que era sobre contracultura, e quando você tem 14 anos e coloca símbolos anarquistas ridículos em sua mochila, é apenas isso que te atrai."

"Sabe, eu sou do Valley. Eu vim de uma bem confortável e afortunada família, mas do tipo que você pode se tornar preguiçoso e complacente. Então quando eu li On the Road, eu pensei: eu tenho que encontrar pessoas assim, que me impulsionam, que não cedem aos seus desejos, mesmo que eles sejam diferentes aos padrões. O livro realmente me mostrou como eu queria viver."

Nesse inconformismo, ela está pensando em seu personagem tanto quanto os homens. "Eu amo Marylou. No livro ela é divertida, sexy, ela é vívida, ela é bem a frente do seu tempo. Ela pula da página e dá um tapa na sua cara."

Ao mesmo tempo ela admite que "esse não é um livro sobre garotas, elas estão no lado de fora das coisas", e que ela teve que se afastar da história para elaborar o personagem. Ela conheceu a filha de LuAnne Henderson, Anne Marie Santos, que "me ajudou a expor sua mãe, a me conectar com ela como uma pessoa real," e ouviu horas de entrevistas gravadas com LuAnne, feitas pelo biógrafo de Kerouac, Gerald Nicosia, que provou serem reveladoras.

"De repente LuAnne tinha voz, e todos nós caímos completamente de amores por ela. Ao contrário dos rapazes, ela não estava se rebelando contra nada, ela estava apenas sendo ela mesma, estando com pessoas que amava. Para mim, conhecer essa mulher tornou muito mais fácil de fugir da caricatura de objeto sexual. LuAnne nunca fez de si mesma um produto. E ela realmente é esse incrível laço entre os dois caras; essa é uma grande coisa para falar, mas talvez a aventura não tivesse acontecido sem ela."

Dunst, 30, lembra de uma atitude diferente quando leu o livro pela primeira vez. "Eu estava mais atraída por escritoras quando eu era mais jovem, Sylvia Plath, Jane Austen, eu adorava a poesia de Edna St Vincent Millay. Eu só li On the Road porque tinha um cara que eu estava afim e esse era seu livro favorito. Então eu o li meio que para ser descolada. Mas eu era muito nova, 16 anos, e realmente não curti."

Dito isso, ela entrou para o filme porque "é um dos grandes livros da história da América, então é claro que você quer fazer parte disso." Além disso, ela leu e sentiu uma forte conexão com a própria autobiografia de Carolyn Cassady, Off the Road, quais frases foram parar no roteiro do filme.

"Carolyn continua viva, morando em Londres. Eu perdi a oportunidade de conhecê-la, mas eu baseei minhas escolhas em seu livro. Para aquele período, ela era uma grande mulher renascentista. Ela tinha mestrado em teatro, e foi uma mulher graciosa, realizada, mas foi trabalhar como enfermeira para cuidar dos filhos.

"Ela poderia ter feito muita coisa se tivesse seguido um outro caminho. Mas ela conheceu Neal e se apaixonou por ele, simples assim. Ele era tão carismático e bonito, e ela se atraiu por ele como todo mundo, como uma mariposa para a luz, não importava o quanto ele a machucava. Eu acho que foi incrível a maneira que ela viveu, cuidando das crianças sozinha, mas ainda continuava generosa com o amor que ela tinha por Neal e Jack."

As duas atrizes tiveram experiências diferentes ao fazer o filme, seguindo seus personagens. Como a isolada Camille, que nunca chegou a rodar no Hudson Hornet, Dunst não conheceu seus co-stars até o final das filmagens; em contraste, Stewart mergulhou no bootcamp que Salles armou em Montreal como uma base de pesquisas para o elenco, e a intimidade que ela desenvolveu com Garrett Hedlund e Sam Riley é evidente na tela - na estrada, em cenas de dança com Hedlund, e cenas de amor que podem surpreender os fãs de Crepúsculo.

"O bootcamp foi muito mais do que apenas sobre pesquisa," ela diz. "Nós tinhamos que conhecer uns aos outros muito bem. Garrett, Sam e eu precisávamos nos sentir seguros e completamente prontos para perder o controle um com o outro. E pra mim isso é muito difícil fazer, porque eu sou o oposto do meu personagem. Eu geralmente sou bastante auto-consciente, mas eu não me importava com nada quando estava com esses caras. Eu tive que viver mais nessas quatro semanas do que eu geralmente vivo. Essa experiência foi inigualável pra mim."

Apesar de Kerouac falhar ao fazer justiça às mulheres, Stewart e Dunst sentiram que seu célebre trabalho tem algo a dizer para um público moderno, "É uma história inspiradora que abre sua mente para outras maneiras de se viver a vida, e isso é eterno," diz Dunst.

Nenhum comentário:

Postar um comentário